25 de mar. de 2012

Super-homem



[...]

-Amar é meio parecido com ser um super-homem, porque você rasga o peito e abre o coração para que a pessoa possa morar ali incondicionalmente. Ela passa a ser a humanidade que você deseja acalentar e seu sorriso se torna o melhor pretexto para você subir até sua janela todas as noites. Aliás, você poderia voar o mundo se quisesse, mas troca qualquer maravilha só para estar perto de quem você pertence, mesmo que do outro lado do vidro. E você usa sua super força para tirar de órbita tudo o que pese na alegria dessa pessoa. Enfrenta qualquer perigo para tê-la segura e sua capa persiste em, um dia, servir de abrigo onde ela possa descansar. Você lamenta se ela escolhe outro herói, apesar disso, se regenera diante de sua felicidade e ainda assim entrega sua própria vida para poupar lágrimas no rosto dela. Você se reconhece nos olhos da pessoa, pois ali estão contidos todos os segredos do universo. Eles são a sua kryptonita, te deixam vulnerável, mas você não se importa de sangrar de vez em quando. Você tem os seus sonhos todos os dias ao seu lado e eles parecem não perceber que deveriam se tornar reais, no entanto, você não tem pressa, já que sonhos precisam ser conquistados. Você quer ser notado sim, pelo seu lado humano, não por super poderes.  

-Huum, então é por isso que os heróis não revelam sua identidade, porque os verdadeiros heróis não procuram recompensas para o que fazem de graça.

-Isso. Pena que nem todos são de aço para entender.


f.

21 de mar. de 2012

Mais do mesmo, você


Sinto-me enclausurada em versos intimistas, que de tanto se voltarem para o mesmo assunto já cansaram as próprias palavras. O ineditismo não cabe mais nas minhas intenções de desabafo. Vivo predestinada a qualquer coisa que não passe do prólogo, mesmo assim, sem qualquer vestígio de êxito, tento imprimir em páginas silenciosas uma continuação otimista aos meus anseios. E não adianta fingir que estudo, me acolher em filmes que me incitem o riso, me cercar de gente estimada. Aos pontos de vista lógicos não restam nem os efeitos e não importa quantas milhas nos afastem, cada terminação nervosa do meu corpo se ramifica até você de uma maneira ou de outra. Arrisco conjecturas no intuito de assimilar sua parte da história, mas sou constantemente traída pela minha lucidez. Já não me encontro como espectadora desta ode, embora carregue em mim resquícios de um antigo estado sóbrio. Tenho a vida atrasada, o coração apunhalado e o sono castigado. De tantas suposições, a única que não alcanço é o que ficou de mim em você. Seria idiota pensar somente no que eu sinto, então imagino milhares de acasos, destinos e coincidências só para antecipar o que você me diria enfim. Só para compreender que as linhas que eu entôo não passam de um monólogo. Reviro-me nessa busca sem respostas, nesse lançamento sem alvo a que uma espera cega induz. Já passa da hora de tirar da playlist todas as canções com o seu sotaque. Aguardo a disposição me direcionar os atalhos e a coerência recuperar o fôlego de vez, pois esperar as providências do tempo é talvez a única forma sensata de levar você comigo. Sem precipitar o relógio, sem equivocar medidas. E entendo que é necessário escrever muito sobre você para que, aos poucos, cada pedaço exposto deixe pelo caminho uma trilha que não precise mais ser visitada. Assim não me nego, assim não me anulo. Assim os capítulos fluem sem apelos ou encargos. Mas por enquanto, isso: mais do mesmo, você.

f.

17 de mar. de 2012

Aos intrusos


Não venha me falar quem eu devo ser, não ouse ditar meus modos como uma mãe educando um filho, não sou sua filha, nem chego a ter algum parentesco com você. Então, não confunda sinceridade com intromissão. Não queira desordenar meu ecossistema, isso já é cruzar a linha do bom senso. Onde foi parar o respeito? Não diga que eu deveria ser mais simpática ou espontânea, não recrimine minha quase misantropia, não fale mal do meu gosto por filmes europeus e asiáticos, nem me olhe torto pelo casamento não estar entre as minhas prioridades. Eu não preciso retornar as suas ligações, ou empregar alguma reciprocidade nesse relacionamento. Somos dois desconhecidos, nada mais, e você já pensa em me afastar da minha natureza! Então deixa eu te alertar: não me ajusto a condicionamentos fabricados por serpentes ávidas em forçar seus interesses sob ameaça de seu veneno. Ou simplesmente não me ajusto a qualquer condicionamento fabricado, a não ser por mim. Eu sou a essência que me conduz e não admito que ninguém se atreva a conduzir minha essência. E isso não é intransigência, apenas uso minha condição de ser livre a meu favor. Não me apetece ser mais uma amostra grátis no mercado, sou uma tecnologia avançada para o que te cabe, edição Deluxe. Não sou para todos, nem para qualquer um. Fujo de relações forçadas, amizades forçadas. Portanto, não tente podar meu livre arbítrio, porque eu vou me afastar. Não tente me enquadrar em resoluções sociais falidas, porque eu vou me afastar. Não haja como se soubesse o que é melhor para mim, porque eu vou me afastar. Esse tipo de solidariedade eu dispenso. Quero não, obrigada! Eu gosto de pensar por mim, faço questão de usufruir até a última gota de liberdade que me pertence e não adianta me pressionar a sentir o que não sinto. Entende? Não? Tanto faz, porque não estou pedindo sua aprovação.

f.

16 de mar. de 2012

Saga de vidro


A moça vive de erguer universos, disseminar utopias e compor diversas personalidades. Sua coragem antepassa o infinito e é mais densa que o peso de papel que esmaga seu sonho. Sustenta coreografias em intenções puras, desnorteando tropeços, ziguezagueando entre tons elevados e moderados. Engatilha-se de virtudes e se arma com encanto e poesia para enfrentar desde os redemoinhos até os furacões mais intensos. Adapta-se às estações e muda de cores conforme a direção do vento. Entrega-se ao que é natural e sabe que bolhas de sabão podem conter sonhos perdidos. Ela já pintou grandes cenas de seu próprio enredo e algumas até guardam borrões indecorosos, mas é só uma expressão do equilíbrio das colorações. A moça se veste de emoções o tempo inteiro porque sentir de verdade é mais sábio que ter um espaço preenchido pelo vazio. Assim a vida segue inteira. E a alma atinge desperta a parada seguinte.

f.

15 de mar. de 2012

Condicional


Mire as estrelas e acerte meu coração.
Decore cada gesto do meu sorriso.
Se esforce para ser o homem da minha vida.
Me vicie em você, até em seus defeitos.
Busque meu carinho sempre que lhe falharem as palavras,
mas não faça disso um artifício para me enganar.
Seja minha rotina de todas as manhãs.
Dê-me a chave dos seus segredos, o baú com seus sonhos.
Não me ofereça o guarda-chuva,
mas seja o meu abrigo nas horas de tempestade.
E me desenhe janelas ensolaradas.
Sucumba todo o caos e me furte até o conto de fadas mais próximo.
Deseje ser salvo só pelo meu abraço.
Atravesse o oceano pela minha afeição.
Tire tudo o que doer do dicionário.
Contemple os anos antes de nós
e compreenda a felicidade que você só conheceu depois.
Passeie na minha vida como quem veio para ficar. E fique.
E assegure que pelas próximas vidas seremos você e eu. 
Juntos e acontecendo.

f.

7 de mar. de 2012

Desrime, viva


Algumas vezes somos obrigados a escrever sem rimas, e às vezes não vale a pena nem tentar reescrever; às vezes a desarmonia soa mais bonita que a mais bonita das consonâncias. Isso porque versos rimados são pensados, articulados, mensurados para combinarem e parecerem perfeitos. Tudo o que não rima carrega a leveza das possibilidades, a liberdade para se chegar mais longe, a intensidade de uma segunda chance, e sua grandeza está no sentido do que se pretende cantar ao mundo, não em limitadas terminações gramaticais.

f.

5 de mar. de 2012

Do jeito que ficaste



Lembras o nosso encontro? O nosso primeiro? Estava eu, toda distraída, tentando dissimular o fato de estar desacompanhada, arriscando uma pose de mulher bem resolvida. E antes do espetáculo começar, nossos olhares se atingiram e se detiveram um no outro. Uma curiosidade aérea de saber quem eras e de onde vinhas pairou em meu instinto, ainda que frouxa, ainda que tímida. E tu, com ar acanhado, passavas por mim na desconfiança séria de te observarem. Ao fim, te aproximaste com uma proposta irrecusável - finalmente, decifraríamos nossos olhares, sem opções extras.
Teu olhar ficou. O momento ficou.
Tu não.

Não havia pretensão de me deixar cativar. Distanciar-me de minhas metas era um caminho extremo a seguir. A relutância me acompanhava os atos sempre medindo à exaustão minhas escolhas. No entanto, estavas mesmo disposto a conquistar-me e eu nunca completamente alheia aos teus esforços. Preparaste-me canções que diziam sobre nós todas as rimas inversas de dias passados. Embalamos nossas esperanças na dança que executamos sem ensaiar passos. Inspiraste-me vida nova, amor.
As canções ficaram. O romance ficou.
Tu não.

Sempre sonhei com um dia assim, em que, me desprendendo da mesmice, me entregando aos fatos, me satisfaria sem amarras na espontaneidade de voar o mais alto dos vôos. Confessaste-me lindos poemas em pleno ar, que diziam sobre ti o tanto de uma vida na qual gostaria eu de me vazar. E cada estrofe soou ecos pelo infinito, anunciando que já não era razoável jogar fora um carinho tão grande, que só cabia em nós e era só teu.
As confissões ficaram. Os sonhos ficaram.
Tu não.

Tivemos os mundos apartados e aos poucos aprendi a te ter por perto, mesmo que só dentro do coração. A vontade era mesmo a de te repetir por todo o resto da vida. Sabe-se lá o que pensa Deus para unir e depois separar, mas não cabe a mim, nem a ti julgar as circunstâncias. O nosso tempo não estava errado, errado estava o tempo dessincronizado. Porque, afinal, o que era assunto sério para ti, era diversão para mim; fazias parte do show, eu da platéia; tudo que precisávamos era nos encontrar.
Teu nome ficou. A ausência ficou.
Tu não,
mas quem sabe um dia voltes.

f.


Inspirou-me:
Hoje eu ouço as canções que você fez pra mim
Não sei por que razão tudo mudou assim
Ficaram as canções e você não ficou
Esqueceu de tanta coisa que um dia me falou
Tanta coisa que somente entre nós dois ficou
Eu acho que você já nem se lembra mais
As canções que você fez pra mim – Roberto Carlos

2 de mar. de 2012

Carta de amor de um homem notável



Bom dia, em 7 de julho

Mesmo antes que eu me levante, meus pensamentos se dirigem a ti, minha Amada Imortal, às vezes com alegria, às vezes com tristeza, à espera de que o destino nos escute. Só posso viver totalmente contigo ou não viver. Decidi errar por lugares distantes até poder voar para teus braços e me sentir em casa contigo e poder enviar minha alma cercada de ti para o reino dos espíritos. Sim, lamento, deve ser assim. Irás superá-lo com mais facilidade sabendo da minha fidelidade a ti; outra jamais poderá se apossar de meu coração, jamais! Oh, Deus! Por que precisamos estar separados daquilo que amamos? E, no entanto, a vida que estou levando em W. é miserável. Teu amor fez de mim o mais feliz dos homens, e o mais infeliz. Na minha idade é preciso ter alguma continuidade, uma vida estável. Será que isso é possível numa situação como a nossa? Meu anjo, acabo de saber que a correspondência é remetida diariamente, portanto, preciso encerrar para que possas receber esta carta imediatamente. Fica tranqüila, ama-me hoje e ontem.
Em lágrimas, anseio por ti, minha vida, meu tudo, adeus. Oh! Não deixes de me amar e jamais duvides do coração mais fiel.

Do teu amado,
L.

Para sempre vosso
Para sempre minha
Para sempre nosso



Trecho retirado do livro Cartas de amor de homens notáveis [Love letters of great men, 2008], organizado por Ursula Doyle. Capítulo dedicado a cartas de Ludwig van Beethoven a sua Amada Imortal, pág. 69.

1 de mar. de 2012

O maior desejo do mundo



Queria que você existisse 
do lado de cá, 
assim como existe 
do lado de dentro.

f.

Layout: Bia Rodrigues | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©