Lembras o nosso encontro? O nosso primeiro? Estava eu, toda distraída,
tentando dissimular o fato de estar desacompanhada, arriscando uma pose de
mulher bem resolvida. E antes do espetáculo começar, nossos olhares se atingiram
e se detiveram um no outro. Uma curiosidade aérea de saber quem eras e de onde
vinhas pairou em meu instinto, ainda que frouxa, ainda que tímida. E tu, com ar
acanhado, passavas por mim na desconfiança séria de te observarem. Ao fim, te
aproximaste com uma proposta irrecusável - finalmente, decifraríamos nossos
olhares, sem opções extras.
Teu olhar ficou. O momento ficou.
Tu não.
Não havia pretensão de me deixar cativar. Distanciar-me de minhas metas
era um caminho extremo a seguir. A relutância me acompanhava os atos sempre
medindo à exaustão minhas escolhas. No entanto, estavas mesmo disposto a
conquistar-me e eu nunca completamente alheia aos teus esforços. Preparaste-me canções
que diziam sobre nós todas as rimas inversas de dias passados. Embalamos nossas
esperanças na dança que executamos sem ensaiar passos. Inspiraste-me vida nova,
amor.
As canções ficaram. O romance ficou.
Tu não.
Sempre sonhei com um dia assim, em que, me desprendendo da mesmice, me
entregando aos fatos, me satisfaria sem amarras na espontaneidade de voar o
mais alto dos vôos. Confessaste-me lindos poemas em pleno ar, que diziam sobre
ti o tanto de uma vida na qual gostaria eu de me vazar. E cada estrofe soou
ecos pelo infinito, anunciando que já não era razoável jogar fora um carinho
tão grande, que só cabia em nós e era só teu.
As confissões ficaram. Os sonhos ficaram.
Tu não.
Tivemos os mundos apartados e aos poucos aprendi a te ter por perto, mesmo
que só dentro do coração. A vontade era mesmo a de te repetir por todo o resto
da vida. Sabe-se lá o que pensa Deus para unir e depois separar, mas não cabe a
mim, nem a ti julgar as circunstâncias. O nosso
tempo não estava errado, errado estava o tempo dessincronizado. Porque,
afinal, o que era assunto sério para ti, era diversão para mim; fazias parte do
show, eu da platéia; tudo que precisávamos era nos encontrar.
Teu nome ficou. A ausência ficou.
Tu não,
mas quem sabe um dia voltes.
f.
Inspirou-me:
Hoje eu ouço as canções que você fez pra mim
Não sei por que razão tudo mudou assim
Ficaram as canções e você não ficou
Esqueceu de tanta coisa que um dia me falou
Tanta coisa que somente entre nós dois ficou
Eu acho que você já nem se lembra mais
As canções que você fez pra mim – Roberto Carlos
Se ele tivesse ficado talvez tivesse sido eterno.
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