30 de nov. de 2014

Você não merece um título

How come I end up where I started?
How come I end up where I went wrong?
-Radiohead


Você nunca vai saber que eu estou aqui meio solta, vagando como um balão que se desprendeu da mão de alguém quase sem querer. E nunca vai saber que, mesmo sem rumo, eu me encontro cada dia de um jeito novo e extraordinário. O mau humor já não procede nos registros e meu riso se abre ainda mais sonoro. Não, as vibrações já não oscilam entre qualquer número abaixo de zero e, do alto, enxergo com resignação o que antes via como um trágico carma. É que agora eu me assumo responsável pela minha própria vida, entende? E você nunca vai saber o quanto isso me custou. Não, você nunca vai saber quantas vezes aportei em outros corações e o quanto estou mais interessada em me fazer feliz. Que reclamo menos e agradeço mais. Que mudei os planos, o perfume e de emprego. Que encaro os danos. Que faço trabalho voluntário. Que descobri quem é Deus. Que abandonei o tratamento. Que respiro fundo para encontrar a calma. Que visitei algumas vezes a sua cidade. E me apaixonei. Que gosto de outros tipos de filme. Que detesto suas teorias. Que fui distímica. Que fiz uma tatuagem. Que acumulo livros lidos pela metade. Que não sei mais nada sobre a sua vida. Não, você nunca vai entender os meus paradoxos e as minhas indecisões. Nunca vai ler os pensamentos e entrelinhas que escrevi pra você. Nunca vai cumprir as promessas que me fez e eu nunca serei a sua garota. E você nunca vai saber que eu confiei quando você disse que a gente iria ficar junto... Passou. Eu já estou enferrujada para continuar acreditando na sua desonestidade, rapaz. Então, como ainda me permito pensar em você? Não, você não vai voltar. E eu não vou me arrepender.

Ah, eu só queria saber até onde a gente poderia ter chegado e mesmo que fosse ao fim eu sempre escolheria tentar. Mas você nunca vai saber. E eu também não.

f.

13 de nov. de 2014

Foi bom

Às vezes, é mais saudável chegar ao fim.
-Tiê


Vou olhar para mim e lembrar quem eu era.

Vou me lembrar da sensação de já conhecê-lo de outras vidas e das músicas que se perderam entre as mensagens do celular antigo. Vou me lembrar do perfume que você costumava usar e também do sorrisinho apaixonado que um dia eu cheguei a provocar. Vou me lembrar daquele sinalzinho fofo decorado abaixo do seu olho direito e, ainda mais, do seu carinho. Vou me lembrar do casaquinho de infância e dos passeios bonitos que a gente fez por aí; lembrar-me-ei dos ídolos, das manias e da excitação. Vou me lembrar das tardes ensolaradas no quarto e das conversas intermináveis. Vou me lembrar das risadas e da amizade, das histórias e das descobertas. Vou me lembrar do primeiro dia e vou me lembrar do último. Vou me lembrar das tentativas e das certezas. Eu vou me lembrar até das fotos que a gente deixou de tirar e dos banhos de mar que a gente não tomou. Vou me lembrar do amanhã que nunca deixará de ser futuro e do infinito que chegou ao fim. Vou me lembrar de você - só enquanto o ler aqui.

De longe, já esqueci.

f.

22 de out. de 2014

Para a tempestade

Um marinheiro me contou
Que a brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
-Chico Buarque de Hollanda



Chorei teu pranto como se fosse meu sem entender que tua chuva cessaria no instante em que me calhasse a decisão. Demorou essa coragem a chegar, mas surgiu no momento oportuno, como deveria ser. Meu barquinho não foi engolido por teu mar e sobrevivi a teu embalo furioso, apesar de quase sucumbir. Essas águas já não me convencem mais que eu não sou suficiente pra vida. Eu sou só e isso é poesia. Hoje posso brilhar até nos dias nublados, sem me sentir criança diante de tanta imensidão. Eu beijo o sal da tua tristeza para me curar dos naufrágios. Agora, eu danço com o vento, por cima do teu volume, fazendo das minhas dores a bússola para seguir adiante. É noite apenas na tua alma. Desalmada. Eu quero horizontes mais vibrantes, tempos mais excitantes e sonhos maiores que o medo. E sem acreditar na tua névoa eu chego até sem pedir. Eu sou o teu oposto, a tua calmaria. Eu sou a existência de nós duas, tola tempestade, que levou minha sanidade e levantou minha força.

E renasço.

f.

30 de jul. de 2014

Do que está dentro


Se preocupa, não, moreno, que hoje sou eu quem vai falar. Não meu orgulho, ou egoísmo, ou o que quer que se atreva a assustá-lo com exigências arbitrárias. Senta um pouco que o papo vai ser longo e pode até cansar, mas te juro, é preciso dizer tudo de uma vez. E quero, antes, deixar registrado para que você não confunda um simples desabafo com cobrança. Porque, não, não é sobre você, é sobre mim.
Desculpa se só enxergo agora, mas foi sempre-sobre-mim: as idealizações exacerbadas, as reclamações tolas e copiosas, os pedidos infantis e o resto da baboseira toda. Tudo eu tentando fazer você acreditar que ainda sou a melhor para você e a verdade é que, talvez, eu não seja mesmo. Mas, tudo bem, porque resolvi sair da clausura do quarto para buscar minha redenção. Percebeu? Já é um começo! Só que, dessa vez, não vou simplesmente esperar que o tempo feche, cure, passe, conforte e o diabo a quatro.
Eu descobri, moreno, o que estava na minha frente este tempo todo. A placa de saída, bem no meio da minha testa. Sou eu quem precisa mudar. Sou eu quem precisa superar os traumas. E eu estou, cara, cheia deles. Bem lá no fundo, monstros de anos e anos, até de antes de você chegar. Todos acumuladinhos, espremidinhos por todo canto.
Eu sofro de raiva, moreno. Em metástase. Tem raiva no fígado, raiva nos pulmões, na garganta, nas palavras, nas rugas da cara fechada. Tudo aqui, esse tempo inteiro, e eu apontando os problemas para os rumos errados. O problema sou eu. E a solução está em mim. Não em você ou no próximo relacionamento falido. Porque é assim que ele e qualquer outro terminarão se eu insistir em carregar essa fúria comigo. Já tá pesando, sabe. E é hora de desocupar a bagagem.
Não queria ter que dizer o quanto o quadro é complicado para não se tornar um mantra, mas, você precisa ter ciência de que leva algumas estações até sarar. E, não, issaquí tampouco é um pedido de espera. É só pra você saber que eu estava certa o tempo todo. E estava lá, no meio das nossas conversas, a resposta, prontinha pra gente. Pra mim. Você é mesmo minha alma gêmea, moreno. Bem como lhe falei naqueles primeiros e-mail trocados, sem conhece-lo direito.
Citei o livro que tinha lido. Destaquei a passagem que fiquei remoendo horas a fio, pois não sabia se concordava por completo. Dizia assim: “[...] As pessoas acham que a alma gêmea é o encaixe perfeito, e é isso que todo mundo quer. Mas a verdadeira alma gêmea é um espelho, a pessoa que mostra tudo que está prendendo você, a pessoa que chama sua atenção para você mesmo para que você possa mudar a sua vida. Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente a pessoa mais importante que você vai conhecer, porque elas derrubam as suas paredes e te acordam com um tapa [...] As almas gêmeas só entram na sua vida para revelar a você uma outra camada de você mesmo, e depois vão embora.”
Você deve imaginar muito melhor agora essa minha dificuldade para deixar as coisas e pessoas irem. Porque continuo almejando que você fique. Mas é você, moreno. Agora eu sei, você tinha que me mostrar o que estava me matando. E eu precisava saber antes que isso me eliminasse sem, ao menos, me dar a chance de tentar uma cura. E, olha, já entendo que eu não preciso ser a sua alma gêmea também. Reciprocidade é algo que a raça humana inventou para massagear o ego. Eu esperei tantas coisas em troca e isso só me deixou mais doente quando elas não saíram conforme as minhas expectativas. Mas, amor se dá e só.
Agora tenho que puxar parte desse afeto pra mim. É apenas um componente do processo, senão não faria sentido “amar o próximo como a si mesmo”. Que tipo de apreço seria esse, afinal? Estou assimilando as respostas e concretizando uma recuperação. É lenta, viu, e às vezes parece não ter jeito. Mas te digo que é preciso parar um pouco de conjecturar teorias sobre tudo e olhar mais para dentro de si mesmo. Às vezes, a gente se perde ao se distanciar do eu verdadeiro e o resultado de quem a gente se torna nem sempre é uma reação positiva.
Então isso aqui é para você saber que agora estou muito mais na minha. Que eu não quero o que você não pode me dar. Que você não deve se sentir cobrado por nada. Que você não é o único responsável por aquilo que cativa. Que eu não preciso de um pai ou guardião... Só te peço um pouco de cuidado para não desenvolver compaixão de mais em vez de respeito.
Essa mudança não é por você, moreno, é por mim. E, claro, você pode segurar minha mão, se quiser. Mas só se quiser.


f.

18 de jul. de 2014

O mundo ainda é bonito, moça

Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh take me back to the start
 -Coldplay


Eu sei que você sempre foi insegura e lenta e idealista. Que se deixou manipular e usar algumas vezes e, noutras, nem sequer observou o que estava acontecendo. Criou malícia para sobreviver aos dessabores e foi desacreditando da bondade. Eu sei que você emprestou e alguns não te devolveram. Que apostou, mas apostou em enganos. Eu vi você entregar a confiança, o coração e a alma. Você contou os dias para o seus aniversários e calculou as horas para o próximo encontro. Quis ser publicitária, advogada, atriz queridinha de Hollywood e até testadora de videogames. Mudou de filme favorito algumas vezes e leu menos livros do que gostaria.
Você nunca teve um amor de verão e em suas orações já pediu por uma história pela qual valesse a pena ter existido. Você é cheia de ideias que nunca coloca em prática. Tem medo de se expor e ser criticada. Costuma soltar sinceridades que, de vez em quando, não são bem recebidas. Mas também já mentiu, já traiu, já iludiu, já omitiu. Eu sei que o peso do mundo lhe quebrou por mais de uma oportunidade e você achou que jamais se recuperaria, mas eu vi você juntar cada estilhaço e se fortalecer com a experiência do dano.
Você conheceu e desconheceu pessoas. Guardou saudades no fundo da gaveta e depois esqueceu. Brincou de ser gente grande até ter que levar o assunto a sério. Você acredita em aventuras, mas parece que nunca as vive. Sente que está parada, mas não faz ideia de como sair do lugar. É do tipo que luta pelas pessoas mais do que pelos sonhos e se pergunta a todo o momento se está fazendo errado. Você já defendeu uma visão mais otimista da vida, mas ainda faz questão de sustentar esperanças até o último milésimo. Alguns hábitos nunca mudam.
Eu sei que você não lembra direito de quem era antes da faculdade, da morte do pai, do primeiro beijo ou do menino que poderia ter sido o homem da sua vida, se ele quisesse. Mas ele não quis. Você sabe que poderia ter chegado mais longe e sente medo do que pode incidir, ou não, se não mudar a estratégia logo.
Talvez, se você conseguisse olhar para frente sem se sabotar... Se houvessem meios de dar o primeiro passo sem esperar por ninguém ou por algum milagre, você descobrisse a coragem que ainda reside por dentro. Que este ainda não é o fim da linha. Que os quase trinta não lhe fazem velha de mais para realizar.
Dá pra ser forte sozinha, moça. Dá pra amar sozinha, a si mesma, e ser feliz pelo resto da vida. Buscar isso no outro é dar crédito demais a um compromisso que é inerente a cada um consigo mesmo. Você anda desequilibrada, moça. Precisa de algo além do espelho para se enxergar. Tente meditação, acupuntura, psicoterapia, homeopatia, dança, baralho. Procure o que lhe faz mal e jogue no lixo. Vá atrás da pessoa certa, vá atrás de você. Não se abandone, não. Não desista, não.
Você acha que já viveu de mais, mas dá para começar do zero. Contanto que você ofereça o máximo, que tente o quanto der, enquanto der, está fazendo sua parte e é o que importa. Corra o seu caminho que o mundo ainda é bonito, moça. E ainda existe futuro. Ainda existem sonhos. Ainda existe amor pra você.

f.

3 de jul. de 2014

O que eu faço quando sentir saudade?

Ou Sobre se apegar

Se fosse só sentir saudade,
mas tem sempre algo mais...
-Legião Urbana


 Querido,

Admito que o apego seja uma das maiores tolices que aprendi na vida. Antes da matemática – da qual só absorvi o básico - e das boas maneiras, havia o apego. Isso explica a demora em me despedir da chupeta, os cadernos e apostilas da faculdade mofando na estante, a dezena de agendas enfileirada na velha escrivaninha e os quebra-cabeças montados incansavelmente durante a infância, agora cobertos por teias de aranha em alguma parte esquecida do guarda-roupa.
Claro que são apenas singelos itens de uma lista interminável sobre uma mania quase impenetrável de viver a vida perigosamente. Porque você sofre. É. O mal ultrapassa a mera cordialidade de acumular objetos que fizeram parte do seu passado pela estúpida incompetência de romper os laços de memórias.
Além dos assuntos tangíveis, há a in-pretensão psicopata de guardar o não palpável. É a vontade de transformar todas as suas amigas em irmãs, para morarem na mesma casa que você e não haver necessidade de esperar até a hora da brincadeira, sempre breve e nunca suficiente. É o choro descontrolado por ver a irmã de verdade voltar para sua cidade-casa do feriado e não poder ir junto. É a depressão por ter que retornar à rotina monótona depois do mês leviano de férias ensolaradas. E, finalmente, é a falta, expectativas rasgadas e canções devolvidas que não mais poetizam momento nenhum.
Eu me apego a pessoas, veja só. Eu, que me armo como antissocial e aprecio demasiadamente os raros momentos de solitude, tenho inclinação natural e irremediável por empilhar, em cantos abstratos, os frios na barriga e as crises de riso. E dentre todas essas pessoas e sensações, eu te elegi, nem faz tanto tempo, a minha favorita. Cê sabe, sou dessas.
Estou agora virada pelo avesso, porque já fui avessa à ideia de me apegar, bem quando o lema principal era manter distância para não gostar demais. Lutei profundamente contra, até perceber a revoada dentro do peito. De novo.
Desculpa, mas eu fico boba até com a ideia de você ter se apaixonado por mim, viu!
Tanta conversa feminista e papo autoajuda não foram suficientes para me fazer esquivar por muito tempo. A resistência falhou. Sempre falha! Mas é a tal coisa, ninguém recusa um feriado prolongado porque a volta é motivo de desânimo e melancolia. Todos são gratos pelos dias extraordinários de trégua com o estresse, embora, no último, o que mais se ouça sejam pedidos chorosos para que qualquer milagre a estenda um pouco mais.
Acho que essa lógica funciona bem na intimidade. Depois que me desapeguei dos temores inúteis, passei a me permitir também, mesmo consciente das possibilidades de dor de cotovelo e coração partido. Em alguma hora, você até esquece que existem dores de cotovelo e corações partidos. E agora quem tem que partir é você.
Eu sei que o meu drama é chato, que você vai, mas volta e blablablá... Mas, o que eu faço quando sentir saudade? Porque andar algumas poucas quadras pra te encontrar é diferente de atravessar o país e eu já doo por antecipação, sabe! Não quero causar a impressão que não apoio, porque tô do seu lado, mesmo que um montão de distância seja acrescentado a nossa fórmula. Só espero que a espera signifique uma certeza no final das contas. Que esse buraco geográfico não seja o bastante para descarrilhar a reciprocidade, entende!
E se tiver que oferecer um incentivo, eu rogo: vai, querido! Que tanta afeição não é suficiente pra te prender. Nem que eu provoque aqui a batalha do século contra o desejo de que você fique. Trago em mim a obstinada faculdade do despojamento, de engolir a mesquinhez do meu egoísmo, de subverter a inexperiência da minha alma, de aceitar, ainda que com atraso, as tramas que são a mim impostas.
Mas, ao destino aviso que vou continuar me apegando e acreditando que experimentar é mais sábio que se arrepender por inanição, porque eu tenho esse apego infinito pelo lado bom da vida. Você.

f.

15 de jun. de 2014

O mundo dentro de nós

’Cause all of me
Loves all of you
-John Legend


Nossas mãos brincando entre si, preguiçosas. É tudo ao que assisto nessa entorpecente tarde, enquanto, vagarosamente, desenho um sorrisinho, daqueles que a cada minuto se dá conta de toda magia invisível. O colchão é um lar que recebe da vidraça as frestas da luz que entra. O mundo lá fora é só mais um planeta avulso que não faz ideia do amor que aflora entre quatro paredes e o infinito. E debaixo da nossa janela ensolarada, uma ternura incontável pela vida que ainda vai acontecer. Ele me promete sorvete de leite condensado, faz mais ou menos uma hora. Mas ele não vai. Nem eu insisto. A geladeira parece tão além do que se consegue esperar, que seria perda de tempo tentar. Está tudo tão quieto e eu adoro fazer esse nada com ele. É nessa maré que me dou conta do quanto já conheço cada dobrinha, cada ruga e formato dos seus dedos. E não tem volta. O tempo nem parece andar e eu só posso pedir para que cada segundo se alargue na sensação de horas. Está tudo tão fora da realidade agora que se fosse acaso eu até tenho certeza de que me apaixonaria de novo uma centena de vezes mais. É tanta intensidade e querência! Desejo seus beijos mais que água. Só que olho pro lado e ele quase dorme. Paraliso. Eu queria, queria fazê-lo compreender sem profusão de verbo que o espaço que ele ocupa é bem maior do que o que, normalmente, proponho. São dele os arrepios e as promessas de mindinho. O plano A e o plano B. Os filhos com o nome dos nossos ídolos e os passeios mais memoráveis pelas esquinas do mundo. Eu queria fazê-lo perceber o chão tremendo quando o meu coração pula acelerado, ainda, depois de tanto tempo, pelo menor indício de elogio e admiração. Quando ninguém mais consegue alcançar o que atravessa meus pensamentos esquisitos, eu sei que posso confiar a ele os esconderijos, os alarmes e os amanhãs. Que afora dores e partidas, hoje escrevo muito mais sobre os abraços. Que ele me fez renascer para a vida que eu havia enterrado numa rotina maçante e cômoda, sem fazer cálculo de toda a perda. Eu sou ele um pouco mais que a mim mesma, em boa parte dos dias, embora isso seja mais censurável que poético. E whatever! Entre mudanças de opinião e alguns pontos de vista, ele continua sendo meu reflexo e nossas falhas tão cúmplices quanto sempre. Ah, eu queria fazê-lo entender que nenhum presente de aniversário, natal ou dia dos namorados vai me improvisar sentimento melhor do que o que chega com suas intenções de carinho. E é tão bom sentir que nós nos completamos. Não que isso sugira alguma falta, mas juntos, ficamos mais bonitos. E somos mais fortes. E encontramos mais coragem. E nossa coleção de música e livros cresce. E as segundas-feiras se tornam mais fáceis. E a vida vale um pouco mais a pena. Às vezes, eu só desejo me fundir nos seus braços-de-casa e morar lá até o fim. Mas as únicas palavras que solto são que o amo. Mesmo querendo despejar todas essas outras urgências, eu só consigo articular o tantão do básico: eu-te-amo. De olhos cerrados, ele só abre um daqueles sorrisos cínicos. De alguma forma ele sabe.

f.

1 de jun. de 2014

Depois, a calmaria

Eu podia estar agora sem você
Mas eu não quero
-Marisa Monte


Não entendo porque quando penso em você todos os seus gestos me aparecem em câmera lenta com cortes explícitos de melhor companhia da terra. Mas faço questão de dar esse mergulho para dentro de seus olhos quase invadidos em um sorriso incoerente de rapaz tímido, porém valente. Eu rebobino a cena mil vezes e fico lá estática, esperando seu apertinho na minha bochecha, como numa doce tentativa de me despertar. Só que estou bem acordada, e ainda mais, abismada, por perceber tão tarde que você é a maior certeza que quis pra minha vida. Então, já não acho de mal admitir que minha cegueira seja uma das maiores da galáxia. Se não fosse pela sua coragem, será que eu ainda estaria esperando amor em outras direções? Até para aprender o inconfundível eu levo um tempo danado de longo. Ainda estou tentando domar tanta tendência a hiperbolizar os nãos e a ser possessiva além do extremo, mesmo que seja quase impraticável aniquilar o fato de que depois de estar com você o que eu mais quero sempre é estar com você. É engraçado isso! Ainda que ao seu lado, eu sinto a maior saudade do mundo. E talvez não seja preciso fazer algum esforço por compreensão. Você destrói minhas manias para se fazer vício de fim de tarde, manhã chuvosa e noite clara de verão. Não... na verdade, você é vício de todas as horas e estações e eras juntas, sem intervalos. E depois de me sentir tão pequena sem você, eu acho que não existe mais e ainda por um tempo aquela impressão de infalibilidade ou sentimento de arrogância. Disseram-me, sim, que eu poderia me reconstruir e viver apenas por mim e embora eu aquiescesse à veracidade dessas palavras, apenas não queria me ater à ideia clichê, e conveniente, de que o que é nosso volta. Não, não e não! Deixa, rapaz, eu ser teimosa e chata assim por mais um tempo, porque eu aspiro é todo o tempo pra nós dois. Um agora sem hiatos, sem barreiras, sem justificativas para viver de mentira até a dor cansar. Tô voltando a confiar. Eu quero poder ceder mais e julgar menos; entregar mais e esquecer consequências reversíveis. Quero fazer planos para daqui dez anos e ver a gente acertando e acontecendo sem improbabilidades. Não faz mal se você bravejar o “menina!” quando ficar impaciente, se a gente pode esquecer as pequenices e seguir fazendo piada do que não merece importância. Vou continuar nessa de pedir para os ponteiros atrasarem as despedidas até que elas desistam. Quero provar pra todo mundo que a gente se gosta tanto, tanto, tanto que até o fim se esqueceu de acabar pra virar começo de novo.

f.

13 de mai. de 2014

Ainda tão sua

Se não sabe, se afaste de mim.
Se ainda cabe, me abrace enfim.
-Nando Reis


Você costumava ter um olhar tão repleto de brilho que eu conseguia ver, até mesmo a metros de distância, que era eu quem provocava essas fagulhas, que sempre me lembravam das estrelas em noite de céu sem nuvem. De alguma forma, eu era importante pra você e esse olhar era que dizia sem nem precisar de sujeito e predicado. Sem nem precisar ligar o alarme ou por anúncio na tv. Era simples e ponto final. Tinha vontade e tinha verdade. E tinha também um sorriso instantâneo que era todo e só pra mim. Você costumava ter um amor... quase que incondicional pra pouco tempo de vivência. Eu fui deixando os medos se perderem no caminho e segui com a confiança que você me emprestava vezenquando a cada ocasião que perdoava os meus tropeços sem pestanejar. Eu fui me acomodando ao seu abraço e me fazendo completa a cada ameaça de beijo. Eu fui, fui feliz distraidamente, pela naturalidade do nosso sentimento e, mais ainda, pela intensidade do que a gente queria viver pela frente. Fui te fazendo de base pra vida toda até perceber que junto com os medos alguma coisa boa também se perdeu. Sobrou esse monte de insegurança e desespero que transbordam em cada maldita crise de afastamento. E acabei me dando conta que depois de todas as coisas boas e ruins, você nunca revelou seu atual estado de espírito. Daí, já nem sei se você me coloca nos seus planos de futuro porque é assim que realmente imagina ou se é porque eu estou na sua frente e, no fundo, não quer me ver chorar. Há quanto tempo você não liga só pra dizer que tá com saudade? Aliás, você chega a sentir saudade alguma hora por dia? Não sei se tenho muito mais tempo para essa brincadeira besta de mostrar ao outro que pode ficar sem ligar dois ou três dias sem nem sentir falta de nada. Eu sinto. Não tenho mais tempo para ser colocada na lista de espera. E me perdoe o excesso, se é assim que pensa. É que a última coisa que eu queria era ter que enfrentar o mundo sem a sua força. A última coisa que eu quero é ter que me desacostumar de você. Aí talvez eu não queira nem sobreviver.

f.

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