15 de jun. de 2014

O mundo dentro de nós

’Cause all of me
Loves all of you
-John Legend


Nossas mãos brincando entre si, preguiçosas. É tudo ao que assisto nessa entorpecente tarde, enquanto, vagarosamente, desenho um sorrisinho, daqueles que a cada minuto se dá conta de toda magia invisível. O colchão é um lar que recebe da vidraça as frestas da luz que entra. O mundo lá fora é só mais um planeta avulso que não faz ideia do amor que aflora entre quatro paredes e o infinito. E debaixo da nossa janela ensolarada, uma ternura incontável pela vida que ainda vai acontecer. Ele me promete sorvete de leite condensado, faz mais ou menos uma hora. Mas ele não vai. Nem eu insisto. A geladeira parece tão além do que se consegue esperar, que seria perda de tempo tentar. Está tudo tão quieto e eu adoro fazer esse nada com ele. É nessa maré que me dou conta do quanto já conheço cada dobrinha, cada ruga e formato dos seus dedos. E não tem volta. O tempo nem parece andar e eu só posso pedir para que cada segundo se alargue na sensação de horas. Está tudo tão fora da realidade agora que se fosse acaso eu até tenho certeza de que me apaixonaria de novo uma centena de vezes mais. É tanta intensidade e querência! Desejo seus beijos mais que água. Só que olho pro lado e ele quase dorme. Paraliso. Eu queria, queria fazê-lo compreender sem profusão de verbo que o espaço que ele ocupa é bem maior do que o que, normalmente, proponho. São dele os arrepios e as promessas de mindinho. O plano A e o plano B. Os filhos com o nome dos nossos ídolos e os passeios mais memoráveis pelas esquinas do mundo. Eu queria fazê-lo perceber o chão tremendo quando o meu coração pula acelerado, ainda, depois de tanto tempo, pelo menor indício de elogio e admiração. Quando ninguém mais consegue alcançar o que atravessa meus pensamentos esquisitos, eu sei que posso confiar a ele os esconderijos, os alarmes e os amanhãs. Que afora dores e partidas, hoje escrevo muito mais sobre os abraços. Que ele me fez renascer para a vida que eu havia enterrado numa rotina maçante e cômoda, sem fazer cálculo de toda a perda. Eu sou ele um pouco mais que a mim mesma, em boa parte dos dias, embora isso seja mais censurável que poético. E whatever! Entre mudanças de opinião e alguns pontos de vista, ele continua sendo meu reflexo e nossas falhas tão cúmplices quanto sempre. Ah, eu queria fazê-lo entender que nenhum presente de aniversário, natal ou dia dos namorados vai me improvisar sentimento melhor do que o que chega com suas intenções de carinho. E é tão bom sentir que nós nos completamos. Não que isso sugira alguma falta, mas juntos, ficamos mais bonitos. E somos mais fortes. E encontramos mais coragem. E nossa coleção de música e livros cresce. E as segundas-feiras se tornam mais fáceis. E a vida vale um pouco mais a pena. Às vezes, eu só desejo me fundir nos seus braços-de-casa e morar lá até o fim. Mas as únicas palavras que solto são que o amo. Mesmo querendo despejar todas essas outras urgências, eu só consigo articular o tantão do básico: eu-te-amo. De olhos cerrados, ele só abre um daqueles sorrisos cínicos. De alguma forma ele sabe.

f.

1 de jun. de 2014

Depois, a calmaria

Eu podia estar agora sem você
Mas eu não quero
-Marisa Monte


Não entendo porque quando penso em você todos os seus gestos me aparecem em câmera lenta com cortes explícitos de melhor companhia da terra. Mas faço questão de dar esse mergulho para dentro de seus olhos quase invadidos em um sorriso incoerente de rapaz tímido, porém valente. Eu rebobino a cena mil vezes e fico lá estática, esperando seu apertinho na minha bochecha, como numa doce tentativa de me despertar. Só que estou bem acordada, e ainda mais, abismada, por perceber tão tarde que você é a maior certeza que quis pra minha vida. Então, já não acho de mal admitir que minha cegueira seja uma das maiores da galáxia. Se não fosse pela sua coragem, será que eu ainda estaria esperando amor em outras direções? Até para aprender o inconfundível eu levo um tempo danado de longo. Ainda estou tentando domar tanta tendência a hiperbolizar os nãos e a ser possessiva além do extremo, mesmo que seja quase impraticável aniquilar o fato de que depois de estar com você o que eu mais quero sempre é estar com você. É engraçado isso! Ainda que ao seu lado, eu sinto a maior saudade do mundo. E talvez não seja preciso fazer algum esforço por compreensão. Você destrói minhas manias para se fazer vício de fim de tarde, manhã chuvosa e noite clara de verão. Não... na verdade, você é vício de todas as horas e estações e eras juntas, sem intervalos. E depois de me sentir tão pequena sem você, eu acho que não existe mais e ainda por um tempo aquela impressão de infalibilidade ou sentimento de arrogância. Disseram-me, sim, que eu poderia me reconstruir e viver apenas por mim e embora eu aquiescesse à veracidade dessas palavras, apenas não queria me ater à ideia clichê, e conveniente, de que o que é nosso volta. Não, não e não! Deixa, rapaz, eu ser teimosa e chata assim por mais um tempo, porque eu aspiro é todo o tempo pra nós dois. Um agora sem hiatos, sem barreiras, sem justificativas para viver de mentira até a dor cansar. Tô voltando a confiar. Eu quero poder ceder mais e julgar menos; entregar mais e esquecer consequências reversíveis. Quero fazer planos para daqui dez anos e ver a gente acertando e acontecendo sem improbabilidades. Não faz mal se você bravejar o “menina!” quando ficar impaciente, se a gente pode esquecer as pequenices e seguir fazendo piada do que não merece importância. Vou continuar nessa de pedir para os ponteiros atrasarem as despedidas até que elas desistam. Quero provar pra todo mundo que a gente se gosta tanto, tanto, tanto que até o fim se esqueceu de acabar pra virar começo de novo.

f.

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