- Quando é seu aniversário?
- Eu já te falei.
- Mas fala de novo!
- Para você esquecer?
- Para eu lembrar.
(...)
Para muitos, só um dia normal. Mais um. E ainda
acho que eu deveria pensar como a maioria. Mas amanheci diferente, meio esperançosa
de algo. Na verdade, estou atolada de trabalho, a casa clama por uma arrumação
e parece que tenho cada vez menos tempo para mim, para tudo. Mas, não, não. Não
é tão grave assim. Hoje eu tô um tanto mais exagerada também. Me preenche essa
sensação auspiciosa, ainda que o momento seja tudo, menos perfeito. Aliás, eu
nem deveria estar reclamando. E não estou, juro. Eu tenho casa, trabalho e...
família, amigos, livros, viagens, histórias legais para contar. Me encontro
aqui em frente ao computador, tentando finalizar esse projeto que já deu tanta
dor de cabeça. Curioso como as idéias nunca aparecem antes da maldita dor de
cabeça. Mas veja você, nos últimos meses tenho sido invadida por conceitos demasiados
românticos. O que eu dispenso em assuntos profissionais. E eu sei que isso advém
de uma expectativa imensa pelo dia de hoje.
- O problema não é o aniversário.
O problema é se você vai se lembrar de mim.
- Por que você diz isso?
- Você acha que nós estaremos
juntos até lá?
(...)
Essa inquietação boba foi o dezembro incrível que
me marcou. Ainda bem que sou resistente. No exercício da rotina, eu ainda
consigo encontrar uma paz branda que me move adiante. E o pessoal fez questão
de me levar para comemorar depois do batente. Meus amigos compõem boa parte
dessa minha força. Bem agora estou rodeada de serezinhos confiáveis e loucos. São
poucos, porém preciosos. Eles nem imaginam que a minha mente está em algum
lugar onde a primavera sorri. Mas é inevitável pensar naquele rapaz. E se ele
soubesse que eu continuo usando aquele sabonete só porque ele gostou do
perfume, e que eu experimentei aquele corte mais reto só porque ele dizia que combinaria
comigo? E se ele soubesse que eu continuei esperando?
- Não sei. Eu só quero que você
sinta que é importante.
- E sou?
- E sou?
(...)
Sim. Eu sou feliz. Não duvide disso. Não veja mal
humor ou vestígios de depressão aqui. Só queria algo que o trouxesse para perto.
Que fizesse essa saudade fazer sentido, pois de nada adianta sentir falta se
não estiver disposto a exaurir o afastamento. E dessa vez não serei eu a abrir
mão, mesmo querendo me sentir importante para ele. Como ele prometeu. Então,
essa é a 46871313168468ª vez que olho para o celular por uma mensagem que não
chega, uma chamada que não me congela até os ossos. E me vejo agora na cena
célebre do filme 500 Dias Com Ela,
quando a expectativa não corresponde à realidade. Mas continuo com o whisky na
mão, sorriso torto no olhar e ele no pensamento. Tudo ao redor é como tem de
ser. E essa espera, no final, é só vontade. O telefone não tocou e eu já nem me
lembro como a conversa termina.
f.