18 de jul. de 2014

O mundo ainda é bonito, moça

Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh take me back to the start
 -Coldplay


Eu sei que você sempre foi insegura e lenta e idealista. Que se deixou manipular e usar algumas vezes e, noutras, nem sequer observou o que estava acontecendo. Criou malícia para sobreviver aos dessabores e foi desacreditando da bondade. Eu sei que você emprestou e alguns não te devolveram. Que apostou, mas apostou em enganos. Eu vi você entregar a confiança, o coração e a alma. Você contou os dias para o seus aniversários e calculou as horas para o próximo encontro. Quis ser publicitária, advogada, atriz queridinha de Hollywood e até testadora de videogames. Mudou de filme favorito algumas vezes e leu menos livros do que gostaria.
Você nunca teve um amor de verão e em suas orações já pediu por uma história pela qual valesse a pena ter existido. Você é cheia de ideias que nunca coloca em prática. Tem medo de se expor e ser criticada. Costuma soltar sinceridades que, de vez em quando, não são bem recebidas. Mas também já mentiu, já traiu, já iludiu, já omitiu. Eu sei que o peso do mundo lhe quebrou por mais de uma oportunidade e você achou que jamais se recuperaria, mas eu vi você juntar cada estilhaço e se fortalecer com a experiência do dano.
Você conheceu e desconheceu pessoas. Guardou saudades no fundo da gaveta e depois esqueceu. Brincou de ser gente grande até ter que levar o assunto a sério. Você acredita em aventuras, mas parece que nunca as vive. Sente que está parada, mas não faz ideia de como sair do lugar. É do tipo que luta pelas pessoas mais do que pelos sonhos e se pergunta a todo o momento se está fazendo errado. Você já defendeu uma visão mais otimista da vida, mas ainda faz questão de sustentar esperanças até o último milésimo. Alguns hábitos nunca mudam.
Eu sei que você não lembra direito de quem era antes da faculdade, da morte do pai, do primeiro beijo ou do menino que poderia ter sido o homem da sua vida, se ele quisesse. Mas ele não quis. Você sabe que poderia ter chegado mais longe e sente medo do que pode incidir, ou não, se não mudar a estratégia logo.
Talvez, se você conseguisse olhar para frente sem se sabotar... Se houvessem meios de dar o primeiro passo sem esperar por ninguém ou por algum milagre, você descobrisse a coragem que ainda reside por dentro. Que este ainda não é o fim da linha. Que os quase trinta não lhe fazem velha de mais para realizar.
Dá pra ser forte sozinha, moça. Dá pra amar sozinha, a si mesma, e ser feliz pelo resto da vida. Buscar isso no outro é dar crédito demais a um compromisso que é inerente a cada um consigo mesmo. Você anda desequilibrada, moça. Precisa de algo além do espelho para se enxergar. Tente meditação, acupuntura, psicoterapia, homeopatia, dança, baralho. Procure o que lhe faz mal e jogue no lixo. Vá atrás da pessoa certa, vá atrás de você. Não se abandone, não. Não desista, não.
Você acha que já viveu de mais, mas dá para começar do zero. Contanto que você ofereça o máximo, que tente o quanto der, enquanto der, está fazendo sua parte e é o que importa. Corra o seu caminho que o mundo ainda é bonito, moça. E ainda existe futuro. Ainda existem sonhos. Ainda existe amor pra você.

f.

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6 comentários:

  1. Acho que esse é um ótimo jeito de conversar com a gente mesmo. Escrevendo como se fôssemos outra pessoa. Essa distância normalmente nos faz enxergar os erros e os acertos com mais carinho.

    E o amor existe em todo lugar. Dá pra ser forte sozinha, sim. Acho que consegui umas duas ou três vezes. rs

    Beijos!

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    1. É muito bom olhar para si mesma, Flá, e melhor ainda reconhecer o que precisa mudar. Força para todas nós, rs.

      Beijjinho!

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  2. fer-do-céu!!!! 99% do texto parece estar falando sobre mim, que coisa incrível!
    "Eu sei que o peso do mundo lhe quebrou por mais de uma oportunidade e você achou que jamais se recuperaria, mas eu vi você juntar cada estilhaço e se fortalecer com a experiência do dano."
    "Talvez, se você conseguisse olhar para frente sem se sabotar"
    Li algo sobre esse assunto esses dias, parece que vem no nosso manual de instrução: não se permitirás ser feliz até não restar alternativa. Eu me sabotei o tempo todo, seja quando encasqueto que o meu novo "ficante" não é lá essas coisas, ou quando eu me garanto que "ele foi, mas volta e eu preciso estar livre". Sei lá, a gente até sabe que tá fazendo coisa errada, que tá seguindo o caminho torto e se impedindo de ver o céu bonito que tá por trás de toda essas nuvens que a gente mesmo pinta. Tem que ter coragem pra pegar um caderno novo e começar a reescrever a vida assim, do nada, do zero, mas é, sem sombra de dúvidas, a melhor saída para ser feliz.
    http://www.novaperspectiva.com/

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    1. Ô se tem, Gabi. Pegar a coragem e a levar até o marco zero, tantas vezes quanto forem precisas, é um dos atos mais sábios que você faz por si mesmo. Às vezes, é a única saída.

      =]

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  3. Que delicadeza de texto, guria. E quanta sensibilidade.
    Em muitos trechos, me identifiquei bastante! A vida exige, sim, coragem, e também muita paciência, sangue frio, paciência de novo, ousadia, dedicação, paciência de novo e de novo e de novo. Mas o que mais aprendo, a cada dia que passa, é que, se não confiarmos no nosso potencial, não conseguiremos nada. Depois de se reerguer tantas vezes, tu tens com certeza muitas das características para ser feliz - porque a vida é isso mesmo, um cai e levanta constante.
    Adorei teu texto!
    Um beijo!

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    1. Obrigada, Cândida, pelo carinho nas palavras.
      Você está certíssima! Paciência e confiança são atitudes que devíamos levar anotadas conosco sempre, para não correr o risco de esquecermos que a necessidade de usá-las pode ser mais frequente do que imaginamos.

      =***

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