25 de fev. de 2012

Meu adeus ao Gabriel



Quando eu conheci o Gabriel, ele estava em outra e eu também. Mas éramos colegas de classe, então passamos a nos ver todos os dias. O Gabriel sempre chamou a atenção com o seu estilo despojado e um humor inteligente. Ele parecia falar com todo mundo, menos comigo.

Um dia eu estava na biblioteca com umas amigas pesquisando para um trabalho em grupo e o Gabriel apareceu. Ele ficou com sua equipe numa mesa próxima, e ao final das atividades a gente já tinha se juntado pra bagunçar baixinho. O Gabriel sentou ao meu lado. E nós conversamos pela primeira vez. Isso não mudou muita coisa entre nós. Agora a gente se cruzava nos corredores e se cumprimentava. A essa altura eu já estava na do Gabriel, mesmo que ele ainda estivesse em outra.

Semanas depois, nos encontramos em uma festa. Falamos-nos brevemente e depois disso não o vi mais. No dia seguinte, me disseram que ele passou um bom tempo me procurando na festa. Meu estômago começou a soltar fogos de artifício.

Arquitetei um plano para me encontrar com o Gabriel sem que ele soubesse do meu interesse. O plano deu certo e fomos ao cinema. Foi lá então o nosso primeiro beijo. O beijo mais doce que eu já recebera. A partir daí, não nos desgrudamos mais.

No 12 de junho, o Gabriel me pediu em namoro. E eu soltei um não bem no meio da cara dele. O Gabriel queria namorar e eu não sabia o que queria. Ele pagou a conta e pediu um táxi para mim. Voltei para casa chorando e sozinha, mas pro Gabriel foi pior. No dia seguinte, conversamos sobre o ocorrido e concordamos em não rotular a nossa relação. Com o passar do tempo, eu percebi o quanto o Gabriel era especial. E logo desejei ser a sua namorada. O segundo pedido de namoro foi feito por mim.

O Gabriel me olhou sem entender e começou a rir da minha cara. Nós estávamos oficialmente namorando. Ele cuidava de mim e me fazia crer em todas as bobagens piegas dos namorados. Nós saíamos pelas ruas sem destino, trocando pedaços das nossas vidas e sendo felizes por estarmos juntos. No meu aniversário, o Gabriel me mandou flores e me levou para jantar. Ele conquistou o apreço do meu pai e virou o novo filho da minha mãe. E eu comecei a achar que não podia mais viver sem o Gabriel.

Nós vivemos sonhos por um bom tempo. Até que o Gabriel mudou de personalidade. Ele não quis conversar, nem me explicar o que estava acontecendo. E eu tive que ser paciente e dar espaço para ele. No final, o Gabriel não queria mesmo continuar comigo, e nos separamos. Entrei em estado letárgico. E quem costumava afirmar com convicção, no início, que não combinávamos, se surpreendeu ao saber que não éramos mais casal.

Passei pelas mais melosas canções de amor até chegar à página do Gabriel na internet. Ele dizia estar à procura de alguém para amar. Esse alguém não era eu. Em uma segunda visita, o Gabriel já havia encontrado. Então, tudo fez sentido. Ele me enganara, havia olhado nos meus olhos e mentido sobre suas razões.

O pior era ter que conviver com o Gabriel, por causa das aulas. Eu passei então a ser torturada diariamente. O Gabriel havia se tornado o meu melhor amigo, o meu melhor namorado, e agora nós agíamos como dois estranhos. O pior de ter o Gabriel foi ter que perdê-lo depois. E com todas as coisas que ele me fez, eu ainda gostava dele.

Passei um tempo amando e odiando o Gabriel simultaneamente. Aprendi um monte de coisa que ele nem imagina que me ensinou. O Gabriel me deixou vulnerável por um tempo, mas tudo que ele causou me fez forte. Eu descobri pessoas que se importam comigo de verdade. Aprendi a sorrir em plena guerra e a sair vitoriosa. Passei a exercitar a cautela para não mergulhar de cabeça no chão. E entendi mais sobre a dialética de liberdade e sobre a vida. O Gabriel foi um grande professor e quando percebi isso passei a lembrar dele, não por sua traição e desonestidade, mas por gostar de poesia e não sentir a necessidade de rir quando os outros riam.

Hoje o Gabriel me apareceu de dentro de uma gaveta, selado em uma caixa que eu nem tinha lembrança de ter mantido. Eu rasguei o Gabriel porque não fazia o mínimo sentido deixá-lo ali. Rasguei-o, não com mágoa, não com raiva, não por vingança. Rasguei porque ali não era mais lugar pro Gabriel ficar. Porque ele já cumprira o seu papel na minha vida e eu sei que virão outros como ele, para me instruir sobre tantas outras dores e alegrias. Fechei a gaveta e apaguei a luz como se nada tivesse acontecido. O Gabriel não voltaria mais.

f. 

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2 comentários:

  1. Bem assim a minha história.
    Acabou porque tinha que acabar.

    Beijo.

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    Respostas
    1. Pois é, Laís. Certas coisas só são compreendidas depois que passam... Agradeço a visita!

      bjO

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